Como veremos, falar do passado seria uma justa e concreta afirmação que muita coisa mudou desde que éramos crianças ou pequenos como muitos gostam de falar. Desculpem-me os mais novos, incluindo meus sobrinhos e pequeninos vizinhos, que quando falo de algumas brincadeiras do meu tempo, ficam assustados e, ao mesmo tempo, incrédulos sobre os comentários que faço, às vezes, em nossas conversas jogadas fora. Tínhamos muitas opções de brincadeiras, a bola em primeiro lugar, carrinho de rolimã, carrinhos feitos de lata de leite, ferrinho de furar o chão, enfim muitas dessas brincadeiras que hoje já se perderam no tempo.
Na época das chuvas, nós, os meninos, ficávamos ansiosos pelo raiar de um novo dia, despertávamos com os galos, que praticamente já não existem mais em nossos quintais, era uma verdadeira orquestra sinfônica… Um iniciava seu canto daí o restante acompanhava, não tenho o que falar da sincronia dos sons, automaticamente quando um acabava outro entrava, e nesse meio tempo, o dia não demorava a nascer. Dali para frente era apenas alegria, de um simples pedaço de ferro, surgia um brinquedo muito interessante, bastava envergar uma de suas extremidades fazendo praticamente uma dobra, logo você tinha um brinquedo pra competir com seus colegas. Faziam-se alguns desenhos no chão molhado pela chuva da noite anterior, tínhamos que furar sem tocar no contorno do desenho e quem conseguisse fazer esse percurso com perfeição seria o vencedor… O que contar com os carrinhos construídos pela gurizada ou um irmão mais velho? Onde se usava algumas latas de leite e podiam-se construir carrinhos com até três vagões, digo latas. Era muito bonito! Aqueles comboios de carrinhos… Existia também a bola de gude, comumente conhecida como peteca, onde a maior confusão acontecia quando se quebrava uma ou mais petecas em algumas partidas, tinha bila de todos os tamanhos, onde com a peteca maior, melhor seria a possibilidade de ser atingido por um dos colegas. Existiam ainda outras brincadeiras, quem não se lembra da mancha, bandeira, cai no poço, cuscuz… Mas, o que mais cativava as crianças e com certeza ainda vai demorar muito era, realmente, a bola!!! O futebol!!! Hoje não se joga apenas pelo prazer de jogar futebol e sim pelo financeiro. Mas nossa pelada, não. Começava muitas vezes bem cedinho, beirávamos nossos dez a onze anos de idade, nessa época nossos pais permitiam que fôssemos jogar futebol no campinho que localizava-se ao lado de um prostíbulo bem conhecido da cidade, no bairro São Benedito, e que tinha o nome bem sugestivo “Calaboca”. Os boêmios ainda estavam terminando sua noitada nos braços das suas amadas, os olhos de sono predominavam naqueles indivíduos, enquanto a nossa vontade de jogar futebol, ultrapassa aqueles desejos carnais.
Então, quando falo da saudade do meu tempo de criança, me refiro a tudo isso… Tenho certeza de que meus filhos nunca irão passar por experiências tão bem vividas. Hoje a modernidade privou-os de viver uma vida mais saudável e divertida… O que vemos são crianças acomodadas brincando com play station, vídeo games, celulares. Brinquedos moderníssimos a controle remoto que fazem coisas que muitas vezes não acreditamos e finalmente os computadores, sem contar que a falta de exercícios faz muito mal à saúde. Ah, quanta saudade…
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